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domingo, 21 de outubro de 2007

A ESCRAVIDÃO


A propósito do tópico anterior, em que abordo o perigo de ser “politicamente correcto” de acordo com o que a sociedade dita hoje, mas muda amanhã, vou contar-vos um episódio que presenciei. Numa sala de trabalho com cerca de 15 pessoas, uma vira-se para a outra e pede-lhe para trazer uma pilha de papéis. Como a pessoa já estava a terminar de empilhar uns tantos, saiu-se com esta: Pensei que o tempo da escravidão já tinha acabado!

Silêncio absoluto. Ninguém falou, a pessoa não reformulou o pedido. Ao terminar aquela tarefa, esta segunda pessoa sai da sala e só aí um dos rapazes que tinha sempre resposta para tudo desabafa: “Tás a ver? O que é que um gajo responde a isto? Não pode dizer nada!”.

Tive vontade de responder: “Claro que pode! E não, infelizmente não acabou e ainda o ano passado descobriram uns portugueses escravizados em Espanha, que viviam a pão e água, forçados a trabalhar de sol a sol, a fazer as necessidades na terra e a dormir todos debaixo do mesmo teto, sem colchões ou camas, no chão”.

Tive vontade mas me calei e hoje talvez gostaria de tê-lo dito. Talvez fosse a primeira oportunidade de alguns para reflectir seriamente sobre a questão, ao invés de terem uma perspectiva unicamente formada pela ficção, que se focou essencialmente na altura das descobertas e na escravatura sofrida pelo povo africano. A maioria pensa que já não existe e está erradicada do planeta.

Infelizmente, não. Cada vez mais, aliás, verifico tristemente que não. O que aconteceu foi que a legalizaram! Mas já irei a essa perspectiva.

Já deu para desconfiar que, o que conduziu ao silêncio na sala, só interrompido quando a pessoa sai, é porque dessas 15 pessoas, 14 eram brancas e a que saiu era negra. Também não compreendo esta inversão de papéis, e esta culpa branca ou arma negra. Não sei, nem pretendo classificar. Existe sim, é ainda muitos obstáculos e muito desconhecimento, o que faz com que a escravatura seja praticada, ás vezes com o conhecimento de toda uma nação, e pouco se possa fazer para erradicá-la.

Ultimamente, nos media, vi duas excepções a esta tendência. Que muito me agradaram. Uma foi o lançamento de um filme/documentário(?) inglês, onde o autor fez questão de afirmar que a escravidão permanece em muitos locais e de muitas formas, e é preciso combatê-la e tomar consciência das formas que tomou. Outro caso, foi a chegada da réplica do navio Amistad, em que também um indivíduo envolvido na organização, um americano afro-descendente, repete por outras palavras a mesma mensagem. Fiquei em êxtase!


É importante retirar da mente das pessoas as limitações que os filmes e as novelas criaram sobre o que é a escravidão. Ou melhor: o que foi. Porque muitos desconhecem que ela hoje existe, outros desconhecem que o são, pois nunca chegou a desaparecer com nenhuma lei. Para a maioria, a escravidão aconteceu e terminou. Começou com as descobertas, foi negra e terminou mais tarde.

Na realidade, antes de Cristo já existiam escravos, de todos os credos, cores e nacionalidades. A ficção lá mostra os romanos e suas belas escravas. E este tipo de escravidão, que é basicamente do mais forte e poderoso sobre o mais fraco, não foi erradicada. Contudo, parece esquecida. Não é uma questão de cor, nem de religião, ou nacionalidade. Não foi branco e negro. Não terminou por a humanidade entender a gravidade do seu gesto. Não se pode reduzir um flagelo tão simplesmente. Toda a escravidão é lamentável, um crime aos direitos humanos, mas está muito enraizada em nós.

Numa ilha cujo nome não consigo recordar (desculpem), algures perto de África, existe até uma designação própria (assim como a Índia tem castas -outra forma de descriminação ou classificação social que atribuí importância ás pessoas por estatuto social) que significa ESCRAVO. São meninos e meninas, com poucos anos de idade, alguns até com três, que são vendidos pelos progenitores a alguém para serem seus escravos. Fazem de tudo, são maltratados verbalmente e fisicamente. A escravatura é prática muito corrente em países africanos. Que, conforme podem ver neste endereço da wikipédia ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Escravatura), também aconteceu de dentro para fora, também quando a procura europeia atingiu o auge durante as descobertas.

Muito podia falar sobre esta questão e dar exemplos de casos que tomei conhecimento, mas já estou a estender este assunto, que tem a ver com novelas, mas não é sobre novelas! É o meu contributo para uma CAUSA SOCIAL. Abrir as mentes, apelar há consciência, tal como a explicação de um brasileiro que escreveu sobre os verdadeiros motivos da erradicação da escravatura no Brasil serem os económicos, abriu os meus. Assim como ficariam cada vez mais abertos olhando para a própria realidade social, o tipo de contratos de trabalho precários pouco dignos e provisórios onde se defendem os direitos das empresas e dificilmente os do lado menos poderoso, o do trabalhador.

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Vi num documentário na TV a reacção de um etíope-descendente inglês (que por ser negro julgava ser afro-descendente) ao descobrir que o nome tribal que tinha acabado de adoptar, de um grande guerreiro com quem se identificava, era afinal um grande colector dos seus para escravizar. No mesmo documentário, vi a transformação de uma mulher afro-descendente que ia à TV inglesa trajando roupas africanas para falar sobre a identidade do «seu» povo, revoltada consigo própria por sentir-se agradecida pelos seus antepassados remotos caírem na escravidão e isso ser a razão pela qual hoje não era ela uma daquelas mulheres interesseiras (assim as chamou), a pedir esmola (assim o disse) que não faziam nada por si mesmas para sair da pobreza em que se encontravam. E nem abordei a questão do tráfego sexual, e dos horrores que percebi que acontecem. Muito pior! Muito pior... Sinceramente, nem quero falar disso, embora seja isso que é preciso todos fazerem.

São outras perspectivas, que abriram a minha consciência, para um assunto que já andava a querer revelar-se.



A escravidão não foi erradicada do planeta, como se pode ingenuamente pensar. É verdade que o comércio de escravos na época expansionista foi massiva. A escravatura era então algo bem definido, visível, era lei. Haviam papéis sociais definidos, atribuídos a cada indivíduo, escravo ou senhor, homem ou mulher, rico ou pobre.

Breve Lição sobre a Escravidão (fonte: Wikipédia)
* A escravidão era uma situação aceite na antiguidade e logo se tornou essencial para a economia de todas as civilizações
*Civilizações como a Mesopotâmia, a Índia a China, o antigo Egipto, os Gregos e os Ebreus tinham escravos mas a sua organização ainda era pouco produtiva.
*Nas civilizações pré-colombianas, os astecas, os incas e os maias, os escravos não eram obrigados a permanecer assim toda a vida e podiam mudar de classe social após quitarem suas dívidas.
*Entre os Incas, os escravos recebiam uma propriedade rural na qual plantavam para o sustento da sua família, reservando ao imperador uma parcela maior.
*Quando em 1415 Portugal conquistou Ceuta era já sua intenção dominar as rotas dos escravos trazidos da África Sub-Sahariana pelos comerciantes beduínos.
* O primeiro lote de africanos escravizados pelos Portugueses foi capturado pelo navegador Antão Gonçalves na costa do Argüim (hoje Mauritânia) em 1441.
* Os Portugueses iniciaram o papel central que tiveram no tráfego negreiro quando começaram a chegar à Guiné, cerca de meio século depois.
* O auge deste comércio deu-se no Séc. XVIII com o comércio dos escravos africanos para o Brasil.
* Foi também no séc. XVIII que Portugal tomou a dianteira na abolição da Escravatura.
* No Reinado de D. José I, a 12 de Fevereiro de 1761, o Marquês de Pombal aboliu a escravatura no Reino/Metrópole e na Índia.
* Verdadeiramente só no séc. XIX é que se finalizou o processo.
* Os primeiros escravos libertados nas colónias foram os do Estado (1854), depois os da Igreja (1856) e em 25 de Fevereiro de 1869 proclamou-se a abolição total da escravatura em todo o Império Português.
* Antes da chegada dos portugueses a escravatura já era largamente praticada no Brasil.
* Os índios escravizavam os prisioneiros capturados em guerras tribais e também aqueles que fugiam de outras tribos.
*Nas tribos praticantes de antropofagia, comiam-se os escravos em rituais.
* os indíos não foram passivos à escravização portuguesa e também passam a vender muitos prisioneiros em troca de mercadorias.
* Existiu no Brasil uma relação comercial distinta entre portugueses e índios, que prestavam serviços de extração e transporte do pau-brasil para os portugueses em troca de mercadoria europeia.
* Quando os portugueses começam a entender as práticas dos índios e a de canibalismo, passam a uma relação de desconfiança, o que abala a relação de colaboração e inicia a imposição da cultura religiosa e trabalho forçado.
* Diante da situação, os nativos ou reagiam ou aceitavam a escravidão.
*Existiam muitos grupos indígenas e os do sul da américa desconheciam o conceito de hierarquia, pelo que não aceitavam o trabalho compulsório.
* Também muitos vieram a falecer, de maus tratos e de doenças que lhes eram desconhecidas ao organismo.
* Devido a estas dificuldades e subsequente facilidade na perca de mão-de-obra, os colonos voltaram-se para África em busca de escravos e no séc. XVIII termina a escravidão de indígenas. * O açucar era a matéria-prima pela qual pretendiam fazer riqueza e como muita mão-de-obra seria necessária, esta razão motivou o início da busca de escravos em África para trabalhar no Brasil.
*A Igreja Católica ganhava um percentagem por cada escravo que entrava no Brasil, assim como a Coroa Portuguesa além dos próprios traficantes.
*A data oficial de tráfego negreiro é 1559.
*Os africanos eram capturados nas mais diversas situações: devido a guerras tribais ou ao já serem escravos por terem dívidas não pagas e podiam ser facultados por traficantes negreiros.
*Surpreendentemente, os maus tratos não eram bem vistos (não era atitude cristã) e em 1700 uma carta do D. Pedro II revela a indignação contra os cruéis castigos, que eram mesmos terríveis, incluindo mutilação e tortura.
*Escravos africanos alforriados frequentemente adquiriam outros escravos passando à condição de escravagistas.
*Os escravos trabalhavam na agricultura, em platações de açucar, tabaco, algodão e café, na mineração e na pecuária.
*Os escravos domésticos trabalhavam nas casas senhoris, realizando serviços como cozinhar e costurar.
*Os escravos ao ganho, eram os que prestavam serviços remunerados e pagavam uma parcela de renda ao seu proprietário.
*Os escravos de aluguel eram emprestados a outros senhores para desenvolver um outro ofício, como carpinteiro ou pedreiro.
*Os escravos não tinham direitos, porque eram propriedade.
*O proprietário é que tinha de garantir os elementos básicos á sua sobrevivência, a alimentação, as roupas, os tratamentos médicos.
*Eram vigiados por capitães do mato, e se fugissem e fossem capturados, eram-lhes aplicados severos castigos, como o tronco e o açoitamento.
*Casos de Alforria aconteciam por variados motivos, desde a vontade do senhor em virtude da obediência e lealdade, até a casos em que o escravo conseguia comprar a sua liberdade.
*Formas de resistir à escravidão eram várias: desde a criação de Quilombos, onde frequentemente também se praticava a escravatura, porque aboli-la não era um objectivo, ao suicído, ao assassinato dos senhores, ás rebeliões e revoltas.
*A revolta dos Malês visava a libertação dos escravos africanos e pretendia escravizar brancos, mulatos e não muçulmanos.
*A abolição da escravatura no Brasil, que conseguiu a independência de Portugal oficialmente a 7/09/1822, deu-se de forma processual, e a 13 de Maio de 1888, a princesa Isabel assina a lei Áurea, extinguindo-a oficialmente.
*O Brasil foi o último país ocidental que ainda mantinha a escravatura legalizada.
*Em 1850 a lei Eusébio Queirós punia os traficantes de escravos e a sua importação e, em 1871 a lei do Ventre livre afirma serem livres os filhos de escravos daí adiante nascidos e em 1885 a lei dos sexagenários concedia liberdade aos maiores de 60.
*A escravidão foi substituída pela mão-de-obra assalariada imigrante, sendo que a abolição da prática escravagista não impediu que, até aos dias de hoje, se continue a praticar superexploração de mão-de-obra em regime de escravidão e tráfego de pessoas.

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